quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Explicação

Desde a minha juventude, a partir de uma conversa incentivadora de um amigo, que comecei a colecionar os livros de genealogia publicados no Brasil, cujas edições mais antigas são do século XIX. Este tipo de publicação, percebi ao longo de todos estes anos, que foram tão poucas, (não passa o total da quantidade dos dedos das mãos) tem particularidades que os tornam na maior parte dos casos, verdadeiras raridades bibliográficas, posto que as tiragens fossem (e no geral, ainda são) muito reduzidas, pois só circulavam para venda dentro das famílias e eram editados e vendidos pelos próprios autores. As tiragens eram no máximo as dezenas, sem chegarem a quantidade, a uma centena de exemplares.

Depois no aspecto comercial, pela minha experiência profissional, tive a oportunidade de perceber que quando uma biblioteca é vendida para um comerciante de livros raros e usados, na maior parte das vezes os vendedores retiram da coleção, justo um único livro: o da genealogia da própria  família. E muitas vezes, é engraçado observar, que nos livros de genealogias do século XX, quando o vendedor vende o livro da própria família, isso na maior parte das vezes as vendedoras mulheres, são arrancadas as páginas onde aparecem o nome impresso, do vendedor e de sua família, acredito que pelo fascínio de ter uma prova guardada e física, do nome ter sido impresso num livro.

Esta semana, por um acaso e por muita sorte, consegui adquirir o último título que acredito faltava em minha coleção, e que é de um dos livros que integram a série dos que por primeiros se imprimiram no Brasil.

Não posso deixar de usar aqui nesta pequena introdução, como uma epígrafe e apresentação, a referência do Dicionário das Famílias Brasileiras sobre a coleção que formei:  "Roberto Menezes de Moraes. Proprietários (sic) da melhor Biblioteca Genealógica, talvez do país, em se tratando de um particular. Sua preocupação maior, foi em conseguir o maior número possível das obras genealógicas impressas antes da virada deste nosso século, É extraordinária sua coleção bibliográfica, e seu acervo referente as famílias da região do Vale do Paraíba Fluminense" (Barata & Cunha Bueno - Dicionário das Famílias Brasileiras -Volume 2 - pag. 2384)

Este derradeiro exemplar, o fecho da acima referida série das obras genealógicas publicadas no século XIX, chegou ontem de tarde (28.2.2012) pelos correios, em perfeitas condições. Um lindo exemplar, com grandes margens, em excelente estado de conservação. Veio de Salvador, o mesmo local onde foi impresso em 1884, na Litho-typografia de João Gonçalves Tourinho, que é citado na obra, na página 47. E tem como título completo: Breves Apontamentos  Genealogicos da Familia Ferreira Tourinho. Esta é considerada uma das mais antigas e históricas das famílias baianas, já que principia sua genealogia em Pedro de Campos Tourinho, homem rico e nobre e que foi donatário da Capitania da Bahia, região onde  aportou em "1536, com todos os seus cabedaes, familia e muitos parentes de seu apellido e de outros" segundo a narrativa do autor.


Este autor, que se esconde pelas iniciais E. T.  é sem dúvidas Eugenio Tourinho, filho do Visconde de Tourinho, citado na página 31. Eugenio era carioca e casou-se com uma moça da família Nogueira da Gama, família esta que tem a primazia de depois da Família Imperial Brasileira, ser a que em nosso país tratou de publicar no ano de 1860, sua genealogia neste tipo de edição, costume até então somente da nobreza e da alta burguesia européia. Tenho como certo que este livro é uma conseqüência natural desta obra, da qual adiante espero poder apresentar o meu exemplar.

Sorte de colecionador, não posso deixar de comemorar, que adquiri esta preciosidade pela metade do valor que paguei a mais de quinze anos atrás, por uma outra publicação desta família Tourinho, de autoria de J. F. Prisco Paraiso, datada de 1977 e que a muitas custas consegui comprar de uma integrante desta família, residente no bairro do Leme, no Rio de Janeiro. A senhorinha estava agarradíssima ao seu exemplar, e achava um sacrilégio vender o livro, que seria algo tal como se estivesse a vender as almas dos avós...  Nesta ocasião, muito anterior ao aparecimento do site da Estante Virtual, achava também raro este livro de 1977, mas hoje constato que existem exemplares dele a venda, pela metade do valor que paguei esta semana pelos Breves Apontamentos de 1884.... Paciência! Este meu exemplar, desde que o comprei, já tem um valor não monetário e comercial.  O colecionador sabe que por comprar, tem sempre sorte, seja pequena ou grande. Importa a expansão e complementação da coleção temática. Assim este novo título integra e fecha com chave de ouro a minha coleção e tem como companhia na prateleira, o outro livro que atualizou e expandiu a genealogia da mesma e antiga família baiana.

Para finalizar esta introdução que já vai longe: quero registrar que após abrir o pacote, e depois de ter experimentado pela primeira vez na vida a sensação de fazer uma compra de um item de coleção, e não ter no pensamento algum outro título que estivesse imediatamente após, na fila de espera (ou do desejo insáciavel do colecionador) para ser localizado e comprado, e ser incorporado à coleção, tive esta idéia de começar aqui a resenhar algo sobre alguns dos livros da coleção que formei.

Tenho como certo, que quando se escreve e publica um livro, o autor é também o primeiro leitor. Então aqui também, se o que eu escrever e publicar, não servir para ninguém, esta idéia fica como pretendo que seja: somente uma distração despretensiosa, e um uso novo para os livros que reuni. Se outra pessoa ler e achar algo de interessante, estarei com o meu objetivo alcançado duplamente.