terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Os Açores são aves marinha de rapina, a genealogia de lá que me voou por artes de um cara de bagre, e retornou no bico de um abutre.....

Meu intento original era escrever somente sobre a bibliografia genealógica brasileira do século XIX. Eu vinha publicando minhas reflexões em ordem cronológica, explanando sobre cada livro da coleção que formei e julgava tão completa e fechada quanto é o cânone bíblico para os luteranos, isso no que tangia ao que fora publicado no Brasil até o inicio do século XX. Mas acabei empacado, por ser obrigado a escrever sobre um determinado livro, do qual não tinha nenhuma vontade ou gosto de escrever, mas era o que estava na fila pela cronologia. E para piorar a situação, apareceu um outro livro, que eu não tinha conhecimento que existia, que abriu e bagunçou o meu cânone genealógico, tanto que eu fui obrigado a compra-lo. 

É engraçado, aqui parece que se escreve para o vento, mas o controle automático das visitas no blog mostra como tem sido o movimento destas páginas, mesmo sem nenhuma publicação por um largo período. Movimentadíssimo!!! Um mistério!!! Pensei que isso era feito um diário secreto, que eu só partilhava com alguns amigos. Ledo engano!!! Assim, além dos amigos que falam pessoalmente, sobre o que tenho escrito, deve ter mais alguém que tem apreciado ou vigiado isso aqui, o que não deixa de ser um estimulo para continuar a escrever. Isso também não importa muito, eu um dia percebi que quem escreve, geralmente não escreve para ninguém, escreve primeiro para si mesmo, porque no geral o autor, quer ler justo aquilo que não leu em lugar nenhum.  Por isso ele escreve. Se satisfaz. Isso quando ele não é um plagiador, como muitos que existem, a sugarem textos e ideias de terceiros. E isso bem poderá ser assunto para um post mais adiante....

Bom era não precisar explicar muito, e falar logo dos livros de genealogia. Vou então pular a minha lista cronológica, e passarei a escolher a esmo, e rememorar o que quiser em livros e genealogia. Hoje então, quero lembrar como comecei a ter contatos com os livros de genealogia propriamente ditos, e como nesse mundo do colecionismo, tudo é ao mesmo tempo, tão impossível como possível!!! Vou escrever sobre um livro que tenho prazer de possuir, e os nomes de uns autores e genealogistas que conheci enquanto o buscava.

É bom invocar a memória de mortos de qualidade!!! Não sou espírita, mas esse é um grande mistério!!! Tenho certeza.

Minha avó tinha uma listinha de livros da família dela, que eu quando rapazote comecei a andar sozinho pelo Rio de Janeiro, comecei a procurar para comprar. O primeiro da lista foi o Livro da Família Werneck, do Dr. Belisário Vieira Ramos, publicado em 1947 pela Livraria Francisco Alves. Me lembro o dia que entrei pela primeira e única vez na famosa livraria do velho Alves, na rua do Ouvidor, já com as prateleiras praticamente vazias, para perguntar inocentemente ao vendedor se eles ainda tinham o tal livro do Belisário no estoque. Evidente que não tinha. Da compra dessa obra que fiz mais tarde, por uma indicação de Victorino Chermont de Miranda, eu farei com gosto, outro dia, um novo post. 

Um ensinamento eu tirei depois de muito observar, é que acho que não devermos ter nenhuma meta na vida que seja muito rígida. Nada que se aflija ou fruste muito. Não é ser desleal, desonesto, desleixado ou indolente, mas sim não deixar de seguir sempre adiante, mas sem aflições ou torturas, pois o que tiver que acontecer,  pelo caminho que se escolhe e passa, isso foi que vi, as coisas boas acabam chegando ou não, por mais impossível ou difícil que pareçam. E muitas vezes, por mero acaso, acontecem as melhores. Há que se ter uma sensibilidade. Uma meta muito rígida ou difícil que se estabelece, pode ser justamente em muitos casos, o que afasta quem busca, do melhor que pode lhe estar reservado. Tentarei explicar o porquê. 

Naquela busca dos livros da lista, nem lembro mais como, ai por volta de 1970 e pouco, caiu nas minhas mãos, emprestado ( mas nunca devolvido, explicarei depois por que....)  pelo velho primo Dr. Vladimir Werneck Furquim de Almeida, um exemplar do História e Genealogia Fluminense, publicado em 1947, pelo meu depois muito amigo, o Dr. Francisco Klörs Werneck. Pois nesse livro do primo Werneck aparecia uma citação de um tal livro do Marcelino Lima, Famílias Faialenses, (publicado na cidade da Horta, ilha do Faial, Açores, em 1923). Fiquei curioso para examinar a obra, e a procurei em livrarias e bibliotecas, numa época em que não existiam computadores e internet, não achava nenhuma pista. Avis rara, rarissima!!!  Assim não tive outra solução, que não fosse tomar coragem, e pelo telefone perguntar ao Dr. Werneck, que eu não conhecia, mas com muita cerimonia, onde e como eu poderia conseguir ter acesso ao tal livro açoreano.

As minhas visitas e amizade com o primo Francisco Klörs Werneck, que começaram a partir dessa telefonema, ainda darão mais um outro post aqui. Esclarecedor até, já que umas comadres velhas andaram ha uns tempos, transbordando de tricotar longas tranças de invejas sobre minha amizade com o bom primo Werneck. Mas isso é assunto de  mais adiante!!!

O certo foi que liguei para o primo Klörs Werneck, que me convidou ir a casa dele no Leblon, com aquela velha hospitalidade e acolhida fraterna dos antigos da família. Quando lá cheguei, ele disse que sim, tinha tido o tal livro de genealogia açoriana, muito raro, que eu buscava, do Marcelino Lima, mas que quando ele, Werneck, se mudara da Tijuca para o Leblon, por falta de espaço, havia vendido uns livros, e que este justamente, fora um  dos que vendera para um genealogista chamado Adalberto Britto Cabral de Mello, que devia morar no bairro da Tijuca.

Dessas coincidências notáveis na minha vida, (as facilidades do caminho) poucos dias depois, estava na seção de obras raras da Biblioteca Nacional, consultando o famoso nobiliário português do Felgueiras Gayo, quando um senhor consulente, com uma voz muito característica, baixinho, de terno e gravata, sentado na minha frente, na mesma comprida mesa, iniciou uma conversação, curioso sobre minha pesquisa. Os bons genealogistas tem sempre isso, essa curiosidade e disposição fraterna, para exercitar a boa vontade de ajudar. Eu buscava os Lacerdas, dos Lacerdas Werneck, dos Peixotos de Lacerda que foram citados no livro do Marcelino Lima.

A seção de obras raras da Biblioteca Nacional naquele momento era comandada pelo famoso e antigo professor Sebastião Hasselmann, trânsfuga do mosteiro beneditino, homem corpulento, alto, com os óculos amarrados com barbantes, botão da camisa estourando e revelando a grande barriga branca, que indo e vindo com os volumes do nobiliário, falava alto da minha pesquisa, para o meu constrangimento:  que ele era Lacerda da Bahia, do Elevador, falou de uma filha natural do avô, com uma escrava que nasceu negra de olhos azuis. Ele não parava de falar, isso creio hoje,  foi o que acabou por introduzir o tal senhor na conversa, que era velho conhecido do funcionário da Biblioteca. O senhor consulente para meu espanto, afirmou que era Lacerda também, e que tinha a tal ligação que eu queria, na árvore genealógica das filhas. Eles evidente que estavam também a gozarem o novato, pois determinado momento que achei um algo que queria e comentei com o senhor consulente, ele risonho falou para o Hasselmann, que me trouxesse uma coroa que estaria guardada na seção, já que os Lacerdas são sabidos serem descendentes de São Luís, rei da França.

Mas a conversa pegou, e o senhor consulente falou também de suas origens da Ilha da Madeira, da Ilha de São Miguel, dos Botelhos, de varonias e varonias de Botelhos, de brasões, de Carlos Rheingantz, e do Colégio Brasileiro de Genealogia, de Salvador de Moya, de sua família, de seu pai desembargador e genealogista, de casamentos de primos, de Pernambuco e de genealogias e outros genealogistas, e só no fim, ao se despedir, que ele se apresentou, me oferecendo o cartão de visitas, onde estava lá o nome dele: Adalberto Brito Cabral de Mello. Eu disse de imediato que era primo do Klörs Werneck, e que andava querendo ver o livro do Marcelino Lima que sabia que ele devia ter. Ele confirmou, que aquele livro era talvez um dos dois ou três que existiam no Brasil,  e que eu o poderia consultar em sua residência, na Rua Pinheiro da Cunha, e mais, que eu o procurasse, tinha planos de se mudar, e poderia me dar de presente um bom lote de livros que estava separando para descartar, duplicatas e outros sem grande interesse para ele. Que eu quando fosse, que levasse uma mala.

Tempos depois fui bater lá no alto da Tijuca, na Usina, na Rua Pinheiro da Cunha, antiga da Cascata, onde conheci sua mulher e prima, Dona Cristina, uma simpatia de senhora, tomei café, sai tarde e vim carregado de livros, trazendo emprestado o exemplar do Marcelino Lima. Antes de me entregar o livro, ele pegou uma caneta ( marca Bic, amarelinha, ponta fina, que sempre usava, de variadas cores, em suas pesquisas, fichas e gráficos, geralmente em compridos papeis quadriculado de escriturações contábeis) e assinou o nome dele na folha de rosto do livro, no canto superior esquerdo. Tirei as notas que quis. Minha mãe e uma irmã copiaram diversas páginas, pois naquela época, nem tão fácil era assim tirar cópias. Era caro e a grana era muito curta. E com muita pena, de não ter um exemplar daquele, devolvi o livro ao Cabral de Mello. Mas guardei todos os detalhes do exemplar. A encadernação e as anotações feita pelos diversos proprietários por quem a obra tinha passado. Voltei algumas vezes a residencia do Cabral de Mello e Dona Cristina, para ganhar e emprestar outros livros, depois que eles mudaram para a Rua Silva Telles, no Andaraí. A conversa e hospitalidade era sempre boa. Dona Cristina observava muito os genealogistas, e sentada numa bonita cadeira de balanço antiga, fazia observações muito precisas e curiosas de alguns personagens que então eu ia conhecendo, ou que quando acabei por conhecer, já estava bem alertado dos riscos que correria......

Uns dez anos depois, a vida de trabalhador havia me afastado do bom amigo Cabral de Mello. Depois do ano de 1976,  a sopa de andar por arquivos e bibliotecas acabara. O horário era duro e a pesquisa de genealogia ficou para lá. Nas férias as pesquisas sempre continuavam, tanto que acabei um dia, em casa de minha prima e amiga Vilma Dutra Novaes, em Rio das Flores, sabendo de um outro ramo de meus antepassados, os Garcia, que vinham da freguesia do Salão, na ilha do Faial. E pensei e falei no livro do Marcelino Lima, e no Cabral de Mello. Precisávamos o consultar novamente.

Estava presente no momento, na casa de minha prima, uma digamos, sombra funesta, que ficou no entanto calada. Cheguei no Rio de Janeiro, e mandei uma carta para o Cabral de Mello, pedindo novamente o livro emprestado. Ele respondeu, que emprestaria sim, que tinha sido oportuna minha solicitação, por que o livro estava emprestado ha muito tempo, e que era um bom motivo para ele o pedir de volta; para poder me emprestar. E informou que ele, que antes trabalhava no escritórios da Casa Colombo, agora estava trabalhando na administração do Hospital da Ordem do Carmo, na Rua do Riachuelo, onde eu deveria encontrar com ele, tão logo o livro lhe fosse devolvido. Nem preciso dizer, que a pessoa que tinha pego o livro emprestado, era justo a tal sombra funesta e calada da casa de minha prima.

Para minha decepção, e tristeza, o Adalberto Brito Cabral de Mello não chegaria a me emprestar novamente o livro, pois vi no jornal, que ele havia falecido. Imaginei que o livro nem tivesse sido devolvido pela sombra. Mas deixei passar um tempo, e escrevi para a viúva, Dona Cristina, dizendo que se ela desejasse vender aquele livro, o das Famílias Faialenses, eu estava interessado. Não disse, mas pagaria na obra, o quanto ela pedisse. Depois de largo tempo, ela respondeu que sim, venderia,  e que tinha demorado na resposta, porque nesse ínterim, os livros tinham sido organizados e apreçados por um amigo do Cabral de Mello, um Senhor Maranhão, e que eu marcasse com ele, para poder ir lá comprar a tal obra. Acertado um sábado de tarde, lá fui a casa do falecido Cabral de Mello.

Ao chegar, pergunto logo pelo livro, e o Senhor Maranhão, com a cara bem disfarçada e algo feliz, informou que um primeiro comprador já o havia adquirido. E não quis revelar o nome do comprador da obra que eu tanto queria. Mas como o  bom cabrito não berra, não reclamei, nem perdi a viagem, adquiri outros livros para minha coleção, que então era muito menor que a do Cabral de Mello. Os preços postos pelo Senhor Maranhão, (que não era profissional de venda de livros, e sim um curioso, atravessador e amador, todo inseguro dos preços que marcara), eram absurdos e confusos, o que devia ser caro era barato, e o barato era caro. Por isso nesse dia comprei a coleção inteira do Artur Resende, a Genealogia Mineira em 4 volumes, mais os índices.. Com um lápis com um borracha na outra ponta, o Senhor Maranhão ia acertando os preços, na vista dos compradores, a medida que eram escolhidos, com a justificativa benemérita que a venda era para ajudar a viúva. Dona Cristina no entanto, não participava de nada,  ausente com sua  tristeza, fora do quartinho onde estava sendo dispersa a biblioteca do seu bom marido. E assim, sai de lá frustrado, e minha vida seguiu. Tempos depois minha prima Vilma Novaes, conseguiu em Portugal, através de uma figuraça de suas relações de amizade, uma cópia completa do livro do Marcelino Lima. Eu tirei outra cópia para mim, mandei encadernar e fiquei bem feliz.

Dez ou quinze anos depois, uma dia toca o telefone da livraria que eu gerenciei por longos 12 anos; era um desses detestáveis pseudos clientes bibliófilos, que nada mais são que abutres disfarçados de bibliófilos, carniceiros. Este era um vil atravessador de livros dentro do comércio alheio, do tipo dos que vivem sempre na espreita de dar uma abocanhada no livreiro, ou uma bicada num incauto comprador. Como esse gajo sabia que eu colecionava livros de genealogia, queria a ajuda para colocar os preços nuns livros que tinha comprado na casa do já ha muito tempo falecido genealogista, o Dr. Leoberto de Castro  Ferreira, um dos sócios fundadores do Colégio Brasileiro de Genealogia, pessoa que conheci ligeiramente num jantar festivo, mas de quem só ouvi boas e melhores referências. Então o miserável do carniceiro travestido de bibliófilo entendido e sabichão, agora no papel de vendedor, foi crocitando pelo telefone, os títulos e os autores,  e eu bobamente respondia, "esse eu tenho, vale, e vale tanto!!" quando ele falou: Marcelino Lima, Famílias Faialenses, eu gelei , não consegui esconder direito o desejo, e disse honestamente: "esse eu não tenho, veja quanto quer nele, que tenho interesse e eu compro".

E assim ficou acertado, ele me venderia. Deu a palavra. Fiquei super ansioso, na espera de ver o exemplar. para poder saber de quem seria o quarto ou quinto exemplar no Brasil.  E o miserável carniceiro bibliófilo, que pousava todo dia na livraria desapareceu. Nunca mais foi, nunca mais, até que um dia entra pela porta, com  cara bem sinistra e faminta, e fala com a arrogância que lhe era habitual:  aquele livro, marquei caro, (seria algo em torno de R$ 500,00!!!), você não pagaria, deixei na livraria Camões para vender em consignação, e mais; "O Estrela, vai vender para o Waldyr Cordovil". Eu de pronto respondi:  "pois eu pago o dobro, vá lá busca-lo que pago agora em dinheiro". Foi o quanto bastou, para que o abutre esquálido colocasse sebo nas canelas finas, levantasse voo com as asas negras e encardidas, depenadas pela penúria dos que não trabalham, e fosse com o bico imundo e pernóstico, rápido buscar na Livraria Camões o tal livro. Quando retornou, para minha surpresa e disfarçada emoção, era o mesmo exemplar que fora do meu primo, o mesmo do Cabral de Mello, o tal que na minha juventude tinha estado em minha casa, o próprio que minha avó tinha visto junto comigo. Ele havia rodado o mundo  por mais de vinte anos e vinha agora para as minhas mãos, para ficar aqui na minha estante, ao meu lado.

Em 2007 esteve no Rio de Janeiro o amigo e grande genealogista açoriano Jorge Forjaz,  levei com satisfação meu exemplar para mostrar e pegar a sua assinatura, como prova de que aquele volume tinha estado também em suas mãos. Ele no entanto preferiu escrever numa das folhas brancas iniciais o seguinte texto: Em Memoria de Marcelino Lima, numa bela livraria do Rio de Janeiro, juntaram-se três genealogistas, todos com sangue do Faial, lembrando a Pátria Comum. Rio de Janeiro, 28.11.2007. Jorge Forjaz, a minha e mais outra assinatura, a de Paulo Fernando Telles Ribeiro.  Este texto escrito por quem escreveu, pelo valor humano e cultural que representa em sua terra, onde é profeta, é a bula que me concede a mais legítima cidadania açoriana honorária. E como tudo na vida tem um motivo, foi nesse mesmo dia, que Jorge Forjaz  me convidou para colaborar com a parte brasileira da edição da obra monumental que escreveu com Antonio Ornellas Mendes, publicada em 2009. Famílias das Quatro Ilhas ( Faial, Pico, Flores e Corvo).  Por ocasião do lançamento, fui a Lisboa com o meu livro, e lá ele complementou o texto de 2007, e em seguida eu coletei as assinaturas de diversos açorianos presentes no lançamento. No dia seguinte levei o meu exemplar, de volta ao  local onde havia sido impresso em 1923, na Tipografia Minerva Insulana, na cidade da Horta, na própria Ilha do Faial, onde coletei outras assinaturas de faialenses que achei tinham esse privilégio, gente que eu não gostaria de esquecer naquela viagem. A tiragem deve ter sido mínima. A Biblioteca da Cidade da Horta tem um exemplar. Contando os que devem ter sido perdidos, não creio fosse a tiragem de mais de duzentos ou trezentos exemplares. Imagino a dificuldade de em 1923 se conseguir papel com fartura numa ilha isolada no meio do Atlântico.

Hoje vejo, que foi a listinha que recebi de livros de genealogia de minha família, mais a nota que li no livro do Klörs Werneck, e toda a busca deste livro Famílias Faialenses que ali era citado, que acabaram por me despertarem para os Açores, e me aproximar de diversas pessoas, que passaram a ser lembradas e estimadas na minha vida. Para no final, me proporcionar, de forma muito honrosa,  ser colaborador na obra que foi feita nos Açores, em cujo prefácio está escrito ser uma atualização da obra Famílias Faialenses, de Marcelino Lima!!!

Os Açores assim, é hoje por eleição, minha terra ancestral adorável. Recentemente estive lá de novo, por mais de dois meses. Perambulando pelas ilhas, vendo as freguesias de onde saíram os meus ancestrais. Tenho sangue das nove ilhas!!! Acharam lá tudo isso tão diferente; um brasileiro com costelas açoritas, tanto tempo passeando além dos turistas convencionais, que fizeram uma reportagem de capa e 4 páginas (12/15), muito ilustradas, na edição da revista Didomingo do periódico Diário Insular. Falaram que a genealogia poderia ser um ponto para um turismo diferenciado. Que lá existem casas, lembranças e sepulturas de antepassados de pessoas espalhadas por todo o mundo. A diáspora açoriana. Não é nada, não é nada, mas quando lembro o início de tudo, vem a certeza que valeu a pena, distraiu a minha vida, não foi vício, não teve maldades. Ajudei muita gente a descobrir suas raízes açorianas. Tudo é prazer, embora muitos nem mereçam. Ficam no olvido!

Quanto a mim, no entanto, tenho a certeza que quando eu não estiver mais aqui, ainda o meu nome e dos meus filhos, estarão incluídos dentre os integrantes daquelas famílias açorianas, as mesmas famílias faialenses das quais um dia eu tive, lá no passado, o prazer de ler num documento guardado no Arquivo Nacional, onde debaixo do nome de meu sexto-avô André Francisco Peixoto de Lacerda da Silveira Bittencourt e sua mulher constava: "este casal pertencia as melhores famílias das ilhas". Isso é um nada para quem não tem ou liga, mas é meu passado, é imutável, e é muito para mim, e foi o que me deu a dimensão exata de que também integro a diáspora açoriana, e isso não por mim ou meus méritos, mas pela vida e luta de meus ancestrais. Só quem tendo sangue de corvinos, e foi até a ilha do Corvo, a menor dos Açores, percebe exato o que é isso!!! Não são tintas de nobreza, nem de riquezas, não é luxo, mas é a noção de pertença, de acolhimento, mas também obstinação de viver, coragem,  fé no futuro dos pósteros, a sabedoria e a alegria para se conseguir sobreviver na adversidade do mundo e da vida. São exemplos a serem pensados e maturados. Então, este é o meu norte exato. Isso tudo foi a expansão do meu entendimento, conseguido a partir da tomada de consciência que me despertou a leitura das entrelinhas da genealogia do livro do Marcelino Lima, enquanto eu sem me angustiar ou cobrar a tal grande meta, segui tranquilo o meu caminho.

E tudo fluiu!!! Quem não conseguir ver a genealogia desta forma, só perdeu tempo. Se eu conseguir morrer pensando nisso tudo assim, partirei feliz e a morte me será suave. Morrer, disse o Cristo numa parábola, é retornar a terra dos ancestrais.Parece piegas, mas se todos vamos morrer, que haja este consolo....é uma meta menor do que pensar na morte só em sofrer!!!
 
Quanto ao estimado exemplar, não vendo por nada, não dou e nem empresto para ninguém, egoistamente é só meu. É o brilhante da coroa de minha coleção, são mil e trezentos e tantos títulos de genealogia, maior parte que nada tem a ver comigo, mas este não, é importante para mim, é meu, então pedirei aos meus filhos que quando eu morrer, o entreguem de imediato, a biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, de maneira que tenha utilidade como livro, mas que nunca mais pertença a ninguém particularmente.

Isso aqui já vale como um codicilo. Que assim seja, e que eles respeitem as manias de um colecionador com manias de genealogias!!!.







PS. Tempos modernos da Internet: Hoje antes de publicar estes texto, achei dois exemplares a venda do Famílias Faialenses, em livreiros estrangeiros, um dos exemplares está cotado em mais de 400 Euros!!!






3 comentários:

  1. Shalom!
    Este artigo é d'aqueles, que após a leitura temos guardá-lo, pegadas de um Genealogista nato.
    Valeu e Parabéns ao Nobre Articulista, por esta bela construção épica, notável e maravilhosa narrativa genealógica.
    Um abraço fraterno
    Creomildo 

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  2. Shalom!
    Este artigo é d'aqueles, que após a leitura temos guardá-lo, pegadas de um Genealogista nato.
    Valeu e Parabéns ao Nobre Articulista, por esta bela construção épica, notável e maravilhosa narrativa genealógica.
    Um abraço fraterno
    Creomildo 

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  3. Prezado Sr. Roberto,

    Excelente artigo. Gostaria agora de passar à leitura de seu livro sobre a Pau Grande e a família Avelar. Onde o encontro?
    Muito obrigado,
    Marcos Branda Lacerda

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