sábado, 3 de março de 2012

Mania de genealogia.

Mania é uma doença, um estado psíquico patológico, quem tem mania é o maníaco, ou o indivíduo que segundo o dicionário, é acometido de um estado de loucura, com tendência para a fúria.

Chega ser por vezes mais que prova de ignorância no manejo das palavras, uma ofensa grave, como aos genealogistas o populacho, sem a menor cerimônia ou cuidado com as escolhas de palavras, chama ao saber do interesse de alguém no assunto, classificando logo sem a menor cerimônia ou educação; ele tem mania de genealogia, ou você que tem mania de genealogia, ou também o que muito ouvi; você guarda isso, já que tem mania de família...

Esse taxar os outros como maníacos, de certa maneira também é um apodo pertinente a qualquer pessoa que se erga da vala comum das frustrantes  rotinas do dia a dia, e se dedique com ainda que mínima inteligência, um pouco de sabedoria ou algum afinco a qualquer outro interesse que não seja ganhar dinheiro, ou aos passatempos corriqueiros do jogo, ou aos vícios de beber, ou acompanhar com sofreguidão o futebol ou outros esportes. Ninguém tem mania de futebol!!! Se bem que usam a expressão fanático!!! Mas basta que o mester envolva prazer com cultura, conhecimento e colecionismo, que a palavra mania  logo aparece. Mas pela minha experiência de vida, já logrei perceber que  esta palavra no geral quando é aplicada, é um recurso de auto defesa, posto que o boçal aculturado quando se depara com alguém que detém um conhecimento ou saber específico sobre algo que ele não domina, então é comum de imediato ele acionar o mecanismo de proteção primária, e tratar logo de classificar o conhecimento do outro que ele ignora ou (muitas vezes) inveja, como mania.

Mas é bom ressaltar também, que existem entre os colecionadores do que quer que seja, bem como entre os genealogistas, pessoas especialíssimas, e que não conseguem manter um saber ou um gosto com suficiente equilíbrio sobre as linhas de uma normalidade sadia e conseguem aporrinhar qualquer um com um falatório genealógico grandiloquente, geralmente auto laudatório. Tanto que, isso em genealogia parece coisa velha, e tamanho é o desvario com que alguns manejam este gostar,  que já nas epístolas, o apóstolo São Paulo recomendava ao jovem Timóteo, que ele não se desse a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação.... Opa! Se a minha tia Carmem (a do post anterior) não fosse espírita, eu teria como certo que ela era discípula devota e fervorosa de São Paulo, pois é ele próprio, que em outra epistola, agora para Tito, recomenda que: não entres em questões loucas, genealogias e contendas e nos debates acerca da lei, porque são coisas inúteis e vãs...Realmente São Paulo e tia Carmem pensavam quase parecidos, numa primeira impressão, mas é evidente, dizem os exegetas, que o que São Paulo fazia menção fazia nestas passagens,  era parte de um outro contexto e pertencia a um aspecto inteiramente diferente, pois Paulo justo queria era evitar este desequilíbrio que fez ao longo de muitos excessos, a genealogia virar na opinião  dos leigos e dos ignorantes nada além de uma simples e prosaica mania.

São Paulo como sábio judeu, era conhecedor das leis e das escrituras, ele entendia perfeitamente a origem da vocação para o registro das genealogias: nas escrituras o ser genealogista não era uma opção pessoal do ser humano, mas sim um chamamento especial do próprio Criador, que colocava  Ele mesmo, este desejo "no coração"  da criatura que escolhia para desempenhar esta missão. Mas o pior nisso para todos nós os genealogistas, entre os quais eu mesmo estou incluso, é que para que estes escolhidos não tivessem soberba alguma, o texto bíblico a que me refiro ressalta que esta escolha do Criador era feita entre os homens mais desprezíveis e os que para nada serviam.... Assim São Paulo sabia também do valor da genealogia pela visão da fé, e ele não a podia condenar, ainda mais que o próprio Nazareno, que foi introduzido e apresentado  nos evangelhos por duas linhas genealógicas diferentes, veio, segundo os mesmos evangelhos, divulgar  uma nova ordem lá de cima, o de amar o irmão mais que a si mesmo. Mas quem seria este irmão? Sem a ajuda da genealogia, não se poderia nunca  saber quem, nem cumprir esta ordem divina. Entendo então, por este ângulo, a validade e utilidade da genealogia, já  que  como a família existe até a lembrança do antepassado comum mais remoto,  a humanidade somente por meio da genealogia é que fica arrolada e reunida  numa única família, a dos descendentes do casal pioneiro de humanos (ou dos  macacos como querem uns).

Mas deve ser então, por causa dessa escolha do Criador, na pessoa dos que nada valem, é que entre nós, os genealogistas surgem os tipos, digamos, mais diferenciados. Há que se ter paciência!!! Posso falar disso como genealogista que sou, e por bem me conhecer e conhecer centenas de genealogistas de todo tipo, desde a minha primeira mocidade. Não sou, nem quero ser, como dizia minha avó, palmatória do mundo; mas, cada um que se ache genealogista que também seja sincero de examinar-se e saber o motivo que o despertou para a matéria. E o quanto que tem ajudado a genealogia ser vista pelos leigos como mania.

Partamos então das páginas bíblicas para os divãs dos analistas e consultórios de psiquiatras, para assim refletirmos em verdade, o quanto de nós não chegou à genealogia para   fugir de  alguma realidade conflitante?  Ou então para dar vazão e vivência aos orgulhos infundados, ou exercitar a vã soberba,  ou sair na busca de validações de nossos defeitos ou falhas de caráter, maior parte das vezes, quando esquecidos de nós, vamos nos consolar de nós mesmos no pinçar e esgravatar noutras vidas e personalidades de nosso próprio sangue, os defeitos que nos são tão presentes.
Outros há que vão buscar conserto e aconchegos que lhes  consolem da inadequação e rejeição do próprio meio familiar, buscando  com elaborada construção mental, espiritual, sentimental, uma família perfeita de sombras, nomes e memórias. Ou daqueles eternos periféricos, que buscam o nem sempre possível reconhecimento e acolhimento social, pessoal, familiar e financeiro dos familiares bem bafejados da sorte. Prova inconsciente disso é que todo presidente da república no Brasil, quando eleito lá tem a parentela no jornal, e depois os livros com a família. Na Europa vale até para o Papa eleito. Mas hoje isso popularizou tanto, parentesco de famoso é um gancho de publicidade e projeção social  até para os parentes de artistas de novelas bem como qualquer outra personalidade  que tenha os seus quinze minutos de fama.

Para finalizar estes pensamentos que muito se estenderam, sei que cada um sabe de si. Eu sei de mim, e cada vez mais a medida que envelheço, tenho tentado andar na minha realidade, e assim cada vez mais vou me despojando pelos caminhos e cada vez mais, dos valores tantas vezes frívolos que acreditava valerem muito, quando eu comecei a dar os meus primeiro passos como (imperfeito ser humano e fraco) genealogista.

De outros genealogistas que conheci no início de minha caminhada é que eu tentava chegar até aqui, o que farei no próximo post, para poder falar do próximo livro. Mas antes termino recordando Mestre Carlos Rheiganthz, que a respeito de mania de genealogia me contou o seguinte caso, que com ele se deu, em ocasião que estava hospedado por um amigo diplomata em Amsterdam, e então o embaixador do Brasil na Holanda.  Estava no escritório do embaixador quando é recebida em visita oficial  uma comissão naval de um dos porta-aviões brasileiros. Com a formalidade de praxe e estilo, o embaixador apresenta Carlos Rheingantz ao almirante chefe do navio, que era por sua vez integrante da descendência de um dos fundadores da cidade do Rio de Janeiro. O cidadão tinha deixado de responder a diversas solicitações de informações para as publicações que se fariam e foram feitas, para as comemorações do IV Centenário da Fundação da cidade. E ele na ocasião,  se tivesse um buraco teria se jogado, com o fiasco que passou, pois quando Rheinganthz tocou no assunto da genealogia e do pirotécnico sobrenome do militar, ele na frente do embaixador e de toda sua oficialidade, envaidecido  emprôou-se e respondeu orgulhoso ao genealogista maior dos cariocas: É verdade!! É minha família, fundadora do Rio de Janeiro! Aliás, lá no Rio de Janeiro, por causa disso, tem até um cidadão que tem mania de genealogia e que tem me importunado por demais e a minha família por isso... ; ao que Rheinganthz o interrompeu e disse para vexame do militar: O maníaco sou eu!!!

Encerro aqui, com esta lembrança do meu amigo e patrono, o engenheiro e genealogista (muito mais genealogista que engenheiro) Carlos Grandmassom Rheinganthz, que foi quem em 1986 me ofereceu o  livro que apresentarei a seguir, e que foi o primeiro no Brasil publicado e dedicado inteiramente ao registro das genealogias de uma família.











Nenhum comentário:

Postar um comentário