sexta-feira, 9 de março de 2012

Genealogia acabada ou dado genealógico??

Tenho para mim como certo, é prestei sempre muita atenção nisso, (já que prestar atenção em tudo é a melhor distração) que a informação genealógica está em toda e qualquer parte. Assim, sei que onde houver uma informação dos nomes de um casal, ou um genitor ou genitora acompanhado de um filho que seja, como se apresentam os dados de uma carteira de identidade, ou uma indicação qualquer que outros dois são irmãos, ou primos, aí estará a informação genealógica a ser considerada para a confecção de uma genealogia. 

Tudo que forma uma célula familiar por mais reduzida e incompleta que seja; sempre acaba sendo um dado a ser preservado ou aproveitado. Mas há que se fazer perfeita distinção entre o dado genealógico e a genealogia pronta. Algo na mesma proporção dos ingredientes e um bolo pronto. O produto finalíssimo da recolha, ordenação, transformação e exposição de dados (o que muitas vezes demora décadas de pesquisas) geralmente é o manuscrito transformado no livro genealógico.

Como um manuscrito não é um livro impresso, obviamente que numa coleção que se proponha bibliográfica ficam fora os manuscritos originais e outros suportes onde se apresentem textos finais de pesquisas genealógicas. A coleção dos livros que venho apresentando contém em separado também alguns manuscritos originais não impressos e em cópias não editadas, também alguns cartões-postais e medalhas. O genealogista Victorino Chermont de Miranda foi o primeiro a chamar atenção, e com muita propriedade discorrer sobre a existência de itens da cartofilia como suporte para apresentação  genealógica. Assim integram parte separada da coleção algumas medalhas com dados genealógicos e uma inteiramente genealógica por ter nela cunhada uma árvore com nomes e datas. Mas isso tudo está fora da bibliografia. No meu entender são somente fontes e curiosidades. 

É importante o genealogista nunca desprezar ou deixar de perceber as fontes que tem acesso. Porque os dados que necessita podem surgir não só de uma conversa pessoal, como também das informações passíveis de extração dos livros paroquiais e cartorários. É bom lembrar que existem também as inscrições de lápides de sepulturas, das noticias de jornais, de textos de correspondências, e também de retratos fotográficos  ou artísticos. Fazer a ordenação destes dados que recolhe e anota, usando uma metodologia apropriada, é para o genealogista uma empreitada (e um prazer) igual a de quem monta um grande quebra-cabeça.

Assim também existem livros, históricos, biográficos e geográficos, publicados no Brasil desde o século XIX, com dados genealógicos, mas que não são necessariamente livros de genealogia. Seriam fontes ou genealogias finalizadas ? 

 Um destes livros que tem este enfoque misto de história e genealogia foi publicado em 1868 por Fernando José Martins, que assinou com as iniciais F. J. M. É obra pioneira, mas que não indica ser um estudo genealógico nem no título: "Historia do Descobrimento e Povoação da Cidade de S. João da Barra e dos Campos dos Goytacazes: Antiga Capitania da Parahyba do Sul: E da Causa e Origem do Levante Denominado - Dos Fidalgos - Acontecido no Meado do Seculo Passado: Dividido em Tres Partes". Foi publicada no Rio de Janeiro, na Typographia de Quirino & Irmão. 

A parte genealógica  desta obra é apresentada em texto quase discursivo, sem grande metodologia. O autor aparentemente não teria maior percepção do que poderia ser um estudo genealógico de qualidade, já que no texto ainda que discorra sobre sua própria família não apresenta quase nenhuma data, cita pouco locais e dados biográficos e nem mesmo a si próprio inclui dentro da obra, o que é uma pena, pois o conjunto de famílias que apresenta tem relevância na história da região e sabe-se pela sonoridade de alguns apelidos familiares ali descritos, que alguns descendentes dos citados, foram depois personalidades de destaque na vida pública brasileira. 

No entanto ele tem o mérito de ter sido o primeiro que ilustrou um estudo genealógico (por mais deficiente ou pouco completo que seja) com a imagem ou retrato de um vulto ancestral. Numa época de limitados recursos gráficos este fato é digno de se notar, ainda mais que depois desta ilustração, demorou ainda décadas para que outro livro genealógico aparecesse ilustrado com algum retrato familiar.

A edição de histórias de cidades com a inclusão dos dados genealógicos, rol de famílias, de descendentes de fundadores, etc, etc, continua até os tempos presentes algo comum nesse tipo de publicação de monografias de histórias municipais de lugares por todo o Brasil, mas (com raras exceções) são sempre umas publicações canhestras, com os dados  e informações genealógicas mal ajambradas e muito pouco elaborados.  Verdadeiras saladas russas com um pouco de tudo, mas quase nada que se aproveite. Os autores geralmente escrevem, o que é de lastimar, como se fossem os leitores de suas obras, somente os seus vizinhos (e seus vizinhos conteporaneos!!), sem nenhuma percepção de posteridade ou distância.

O exemplar da coleção não está em bom estado, tem furos de bicho, sem afetar o texto. Não me lembro do momento exato que veio para as minhas mãos, mas como na última página tem marcado o preço que paguei, pela caligrafia acho que devo te-lo adquirido de uma velhaca bigoduda, ai pelos idos da década de 1990.  

O bibliógrafo Raymundo Sacramento Blake informa no seu Dicionário que o autor quando morreu estava trabalhando na segunda edição desta sua obra de 1868. Fica então para ele o benefício da duvida. Talvez a segunda edição pudesse ser bem melhor e mais detalhada na parte genealógica.




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